Dossiê Cultura visual e violências
Dossiê: Cultura visual e violências
Revista Esferas 2/2025
Editores-convidados:
Felipe Polydoro — Universidade de Brasília
João Vitor Leal — Instituto Federal de Brasília
Ileana Diéguez — Universidad Autónoma Metropolitana de México
Jeremy Lehnen — Brown University
Datas importantes:
Data limite de submissão: 28 de fevereiro de 2025
Período de avaliação: 28 de fevereiro a 15 de junho 2025
Data prevista para publicação: 31 de agosto de 2025
O contexto internacional de aprofundamento de autoritarismos e disseminação de necropoderes complexifica as relações entre mídia, imagem e violência. Nas sociedades de inimizade (Mbembe, 2017), os processos de militarização e “milicialização” banalizam progressivamente os usos políticos e econômicos do terror. Métodos de governo que exploram violência física e cultura do medo difundem-se entre instituições do Estado, organizações criminosas, estruturas privadas de segurança, milícias e até nos núcleos familiares. Trata-se de violências de cunho racista, misógino, LGBTQIA+fóbico e classista dirigidas majoritariamente a grupos vulnerabilizados. Como já ocorreu em outros momentos da história, o exercício do poder exige, simultaneamente, espetáculos de violência e invisibilização do outro (Mondzain, 2015). Nesse capitalismo gore (Valencia, 2010), a crueldade não só serve ao controle e descarte de populações, mas também produz valor. A destruição de corpos e a posterior veiculação de notícias e imagens brutais perfazem um circuito de capitalização interminável da tortura e da morte — no jornalismo sensacionalista, nas séries sobre crimes das plataformas de streaming e em perfis de redes sociais.
Em contrapartida, fotografias e vídeos de evidência também perturbam a “ficção dominante” (Silverman, 1996), visibilizam e promovem a agência dos oprimidos e se tornam ferramentas eficazes de denúncia de violências de Estado, de microexércitos privados, grupos neo-fascistas etc. No cinema e nas artes visuais, inúmeros trabalhos dão expressão às sensibilidades e às "estruturas de sentimentos" (Williams, 2011) que emergem em tempos de brutalização das relações sociais. Neste campo, percebe-se também o esforço de representar o horror evitando o risco de, nas palavras de Saidiya Hartman, "replicar a gramática da violência" ao "reiterar discursos violentos e representar novamente rituais de tortura" (2020, p. 18). O objetivo deste dossiê é publicar trabalhos que analisam e discutem o fenômeno das violências sob o prisma da cultura visual. Entre os enfoques sugeridos (embora não exclusivos), podemos citar:
- Políticas da representação e espetacularização da crueldade no audiovisual;
- Articulações entre mídia, Estado penal e organizações criminais no capitalismo necropolítico;
- Cultura do medo e controle social nos meios hegemônicos e nas redes digitais;
- Novas estéticas e performances da violência no cinema, artes e outras manifestações visuais;
- Imagens e narrativas que elaboram a violência social no âmbito da ficção;
- Uso das imagens no combate à violência racista, contra as mulheres e contra a população LGBTQIAPN+;
- Vídeos e fotos de guerra em tempos de redes sociais;
- Produtos audiovisuais sobre traumas e catástrofes;
- Contra-discursos visuais e subalternidade;
- Relações entre violências física e simbólica em tempos de discursos de ódio;
- História e historiografia das imagens de violência;
- Narrativas visuais contra o capital extrativista no campo e na floresta.
Referências:
HARTMAN, S. Vênus em dois atos. Revista Eco-Pós, v. 23, n. 3, 2020.
MONDZAIN, Marie-José. Homo spectator: ver, fazer ver. Lisboa: Orfeu Negro, 2015.
MBEMBE, A. Políticas da inimizade. Lisboa: Antígona, 2017.
SILVERMAN, Kaja. The threshold of the visible world. New York: Routledge, 1996.
VALENCIA, Sayak. Capitalismo gore. Tenerife: Melusina, 2010.
WILLIAMS, Raymond. Cultura e materialismo. São Paulo: Ed. Unesp, 2011.
------
Special Issue: Visual Culture and Violence
Important dates:
Submission Deadline: February 28, 2025
Review Period: February 28 to June 15, 2025
Expected Publication Date: August 31, 2025
The global rise in authoritarianism and the spread of necropower further complicate the relationships between media, imagery, and violence. In societies of enmity (Mbembe, 2017), the political and economic uses of terror become progressively normalized. Governance tactics that blend physical violence with a culture of fear permeate state institutions, criminal organizations, private security entities, and even family circles. These forms of violence—rooted in racism, misogyny, LGBTphobia, and classism—are directed primarily at vulnerable groups. Historically, the exercise of power has required both spectacles of violence and the invisibilization of the other (Mondzain, 2015). In the context of "capitalism gore" (Valencia, 2010), cruelty serves not only to control and discard populations but also as a source of profit. The destruction of bodies, and the subsequent dissemination of brutal news and imagery, create an endless cycle of capitalizing on torture and death—whether in sensationalist journalism, true crime series, or social media profiles.
Conversely, witnesses' photos and videos disrupt the “dominant fiction” (Silverman, 1996), bringing visibility and amplifying the agency of the oppressed, thus serving as powerful tools to denounce violence inflicted by the state, private militias, neo-fascist groups, and others. In cinema and the visual arts, numerous works express the complex sensitivities and “structures of feeling” (Williams, 2011) that emerge amid the brutalization of social relations. This field also reflects an effort to represent horror while avoiding the risk, in Saidiya Hartman’s words, of "replicating the grammar of violence" by "reiterating violent discourses and rituals of torture" (2020, p. 18). This dossier aims to publish works that critically analyze and discuss violence through the lens of visual culture. Suggested (though not exclusive) areas of focus include:
- The politics of representation and the spectacle of cruelty in audiovisual media;
- Connections between media, the penal state, and criminal organizations in necropolitical capitalism;
- The culture of fear and social control in mainstream media and digital networks;
- Emerging aesthetics and performances of violence in cinema, the arts, and other visual forms;
- Images and narratives that depict social violence within fictional frameworks;
- The use of visual media to combat racist violence, misogyny, and violence against LGBTQIAPN+ communities;
- War imagery in the era of social networks;
- Audiovisual representations of trauma and catastrophe;
- Counter-discourses in visual media and narratives of subalternity;
- Relationships between physical and symbolic violence in an era of hate speech;
- The history and historiography of violent imagery;
- Visual narratives as resistance to extractivist capitalism in rural and forested areas.
------
Dossier: Cultura visual y violencias
Fechas importantes:
Fecha límite de envío: 28 de febrero de 2025
Período de evaluación: del 28 de febrero al 15 de junio de 2025
Fecha estimada de publicación: 31 de agosto de 2025
El contexto internacional de intensificación de los autoritarismos y de la propagación de necropoderes complejiza aún más las relaciones entre medios, imagen y violencia. En las sociedades de enemistad (Mbembe, 2017), los usos políticos y económicos del terror se normalizan progresivamente. Métodos de gobierno que combinan violencia física con una cultura del miedo se extienden por las instituciones del Estado, organizaciones criminales, estructuras privadas de seguridad e incluso en los núcleos familiares. Son formas de violencia marcadas por el racismo, la misoginia, la LGBTfobia y el clasismo, dirigidas principalmente contra grupos vulnerabilizados. Como en otros momentos de la historia, el ejercicio del poder demanda tanto espectáculos de violencia como la invisibilización del otro (Mondzain, 2015). En este “capitalismo gore” (Valencia, 2010), la crueldad no solo sirve para controlar y eliminar poblaciones, sino que también genera valor. La destrucción de cuerpos, seguida por la difusión de noticias e imágenes brutales, crea un ciclo interminable de capitalización de la tortura y la muerte, ya sea en el periodismo sensacionalista, en las series de true crime o en los perfiles de redes sociales.
Sin embargo, fotos y videos utilizados como evidencia también desafían la “ficción dominante” (Silverman, 1996), dando visibilidad y agencia a los oprimidos y convirtiéndose en herramientas poderosas para denunciar la violencia ejercida por el Estado, los microejércitos privados, grupos neofascistas, entre otros. En el cine y las artes visuales, numerosos trabajos expresan las sensibilidades y “estructuras de sentimiento” (Williams, 2011) que emergen en tiempos de brutalización de las relaciones sociales. Este campo también refleja un esfuerzo por representar el horror sin correr el riesgo de, en palabras de Saidiya Hartman, "replicar la gramática de la violencia" al "reiterar discursos violentos y representar nuevamente rituales de tortura" (2020, p. 18).
El objetivo de este dossier es publicar trabajos que analicen y discutan el fenómeno de la violencia a través del prisma de la cultura visual. Entre los enfoques sugeridos (aunque no exclusivos) se incluyen:
- Políticas de representación y espectacularización de la crueldad en el audiovisual;
- Articulaciones entre medios, Estado penal y organizaciones criminales en el capitalismo necropolítico;
- Cultura del miedo y control social en los medios hegemónicos y redes digitales;
- Nuevas estéticas y performances de la violencia en el cine, las artes y otras manifestaciones visuales;
- Imágenes y narrativas que exploran la violencia social en el ámbito de la ficción;
- Uso de imágenes en la lucha contra la violencia racista, la violencia contra las mujeres y contra la población LGBTQIAPN+;
- Imágenes y videos de guerra en la era de las redes sociales;
- Representaciones audiovisuales del trauma y la catástrofe;
- Contradiscursos visuales y subalternidad;
- Relaciones entre violencia física y simbólica en tiempos de discursos de odio;
- Historia e historiografía de las imágenes de violencia;
- Narrativas visuales de resistencia al capital extractivista en el campo y en la selva.
------
Dossier : Culture visuelle et violences
La montée mondiale de l’autoritarisme et la propagation du nécropouvoir complexifient davantage les relations entre les médias, l’image et la violence. Dans les sociétés de l’inimité (Mbembe, 2017), l’escalade conjointe des processus de militarisation et de « milicialisation » banalise progressivement les usages politiques et économiques de la terreur. Des méthodes de gouvernance qui modulent la violence physique et la culture de la peur se diffusent parmi les institutions d’État, les organisations criminelles, les structures de sécurité privée, et même les relations familiales. Ces formes de violence – ancrées dans le racisme, la misogynie, la LGBTphobie et le classisme – sont principalement dirigées contre des groupes vulnérables. Historiquement, l’exercice du pouvoir a exigé à la fois des spectacles de violence et l’invisibilisation de l’autre (Mondzain, 2015). Dans ce « capitalisme gore » (Valencia, 2010), la cruauté ne sert pas seulement au contrôle et à l’élimination des populations, mais produit également de la valeur. La destruction des corps, suivie de la diffusion d’actualités et d’images brutales, crée un cycle infini de capitalisation de la torture et de la mort – que ce soit dans le journalisme sensationnaliste, les séries « true crime » sur les plateformes de streaming, ou les profils sur les réseaux sociaux.
D’autre part, les photographies et vidéos de témoignage perturbent la « fiction dominante » (Silverman, 1996), donnant visibilité et agentivité aux opprimés et devenant ainsi des outils efficaces de dénonciation des violences infligées par l’État, les milices privées, les groupes néo-fascistes, etc. Dans le cinéma et les arts visuels, de nombreuses œuvres expriment les sensibilités et les « structures de sentiment » (Williams, 2011) qui émergent face à la brutalisation des relations sociales. Dans ce domaine, on observe également des efforts pour représenter l’horreur tout en évitant le risque, selon Saidiya Hartman (2020), de « répliquer la grammaire de la violence » en « réiterant des discours violents et en représentant de nouveau les rituels de torture ». Ce dossier vise à publier des travaux qui analysent et discutent le phénomène des violences sous l’angle de la culture visuelle. Parmi les axes proposés on peut citer:
- Politiques de la représentation et spectacularisation de la cruauté dans l’audiovisuel
- Articulations entre médias, État penal et organisations criminelles dans le capitalisme nécropolitique;
- Culture de la peur et contrôle social dans les médias dominants et les réseaux numériques;
- Nouvelles esthétiques et performances de la violence dans le cinéma, les arts et autres formes visuelles:
- Images et récits qui mettent en scène la violence sociale dans le cadre de la fiction ;
- Utilisation des images dans la lutte contre les violences racistes, misogynes et envers la communauté LGBTQIAPN+ ;
- Images de guerre à l’ère des réseaux sociaux;
- Expressions audiovisuelles du trauma et de la catastrophe;
- Contre-discours visuels et subalternité ;
- Relations entre violence physique et violence symbolique à l’ère des discours de haine;
- Histoire et historiographie des images de violence;
- Récits visuels de résistance contre le capitalisme extrativiste dans les zones rurales et forestières.











