Dossiê Comunicação e Literatura: Narrativas e Experiência Estética
Editores responsáveis:
Prof. Dr. Leandro Bessa (UCB)
Profa. Dra. Pamela Zacharias (USP)
Profa. Dra. Danielle Naves de Oliveira (UnB)
Prof. Ms. Rhaysa Novakoski (UnB)
Data limite para submissão: 15 de agosto de 2026.
Período de avaliação: 16 de agosto a 15 de novembro de 2026.
Previsão de publicação da edição: dezembro de 2026.
Chamada:
As narrativas literárias configuram-se como potentes fontes de criatividade para a constituição de diversos produtos midiáticos contemporâneos. A partir da literatura, surgem roteiros cinematográficos, séries audiovisuais, adaptações para histórias em quadrinhos, livros de arte, produções musicais e uma ampla gama de expressões estéticas que transitam entre diferentes linguagens e suportes. Nesse contexto, esta chamada para a Revista Esferas propõe reunir reflexões, análises e investigações que se situem na interseção entre Literatura, Comunicação e Artes, em diálogo com as práticas culturais contemporâneas.
Ao considerar os encontros entre gêneros, linguagens, mídias e suportes, destaca-se a importância de compreender a Comunicação como instância mediadora das experiências humanas, das questões sociais e de gênero, bem como das dimensões políticas e históricas evocadas por obras literárias clássicas e contemporâneas. Assim, os deslocamentos e ressignificações de textos literários para outras linguagens — como o cinema, as artes visuais, a música e os ambientes digitais — tornam-se objetos relevantes para o debate acadêmico no campo da Comunicação e das Artes.
Essa perspectiva dialoga com a formulação de Jacques Rancière (2000), que afirma, em A partilha do sensível, que, no regime estético das artes, “[...] as coisas da arte são identificadas por pertencerem a um regime específico do sensível. Esse sensível, subtraído a suas conexões ordinárias, é habitado por uma potência heterogênea [...] O regime estético das artes é aquele que propriamente identifica a arte no singular e desobriga essa arte de toda e qualquer regra específica, de toda hierarquia de temas, gêneros e artes. Mas, ao fazê-lo, ele implode a barreira mimética que distinguia as maneiras de fazer arte das outras maneiras de fazer e separava suas regras da ordem das ocupações sociais.” (Rancière, 2000, p. 32-33).
Assim, a retomada de narrativas clássicas — muitas vezes compreendidas como um enigma que atravessa gerações — reafirma o caráter dinâmico e mutável dos textos literários. Com base no que Barthes (2015) fala sobre o desejo criador que uma obra pode desencadear, pode-se dizer que, em cada texto literário, reside a potência para a criação artística ao infinito. Como bem observou Italo Calvino (2007), ao se referir à versão cinematográfica de A Cartuxa de Parma, de Stendhal, um romance pode, décadas depois, retornar para fascinar e seduzir novos públicos, de modos diversos. Autores como Dante Alighieri, Miguel de Cervantes, Franz Kafka, Clarice Lispector e João Guimarães Rosa têm suas obras constantemente revisitadas e transformadas em objetos de produções audiovisuais, exposições, filmes, espetáculos e diversas outras formas artísticas — uma multiplicação de imagens em direção ao que Rancière (2012) denomina “entrelaçamento lógico e paradoxal entre as operações da arte”.
Do ponto de vista teórico, a interseção entre literatura e comunicação torna-se central na elaboração de pensamentos como o de Ciro Marcondes Filho, que, em seu conjunto de obras denominado Nova Teoria da Comunicação (publicadas entre 2000 e 2020), dedicou-se aos aspectos tanto ontológicos quanto contingentes dessa relação. Da mesma forma, Friedrich Kittler apresenta um dos pensamentos mais originais sobre a interface comunicação-literatura. Ao investigar a literatura germanófona dos séculos XVII e XVIII, Kittler localiza na figura materna a mídia corporal (a mãe é calor e é voz) que transmite as narrativas fundamentais para a formação humana no Ocidente. Além disso, cabe citar Vilém Flusser, leitor profícuo de Kafka e Guimarães Rosa, que afirmava que a língua cria realidade; por isso, via a literatura como parte privilegiada de um processo histórico (e também pós-histórico) no qual a narrativa tradicional se enreda em uma complexa rede de sinais, ritos, programas, materialidade, imaterialidade, sacralidade, códigos e aparelhos.
Da mesma maneira, a literatura mobiliza discussões que extrapolam as páginas dos livros, constituindo fundamentos epistemológicos centrais no campo comunicacional, bem como em formulações estéticas, como em questões sobre materialidade, modos de circulação e novas (ou revisitadas/reformuladas) poéticas, as produções literárias recentes muitas vezes não apenas levantam discussões e inspiram debates, mas também mobilizam diferentes linguagens artísticas já desde o desenvolvimento e nascimento da obra ou do produto comunicacional. Nesse contexto, o “caos das materialidades” é evidenciado pela dissolução dos limiares entre os fazeres artísticos.
Isso posto, o dossiê Comunicação e Literatura: Narrativas e Experiência Estética convida pesquisadoras e pesquisadores das áreas de Comunicação, Literatura, Artes e campos afins a submeterem artigos, ensaios e relatos de pesquisa que reflitam sobre os múltiplos diálogos entre os campos da literatura e da comunicação, investigando como os discursos literários e midiáticos se entrecruzam, se tensionam e se transformam no contexto da cultura contemporânea. Valorizam-se abordagens inter e transdisciplinares que explorem tanto os modos de circulação da literatura na mídia quanto os usos literários nas práticas comunicacionais.
Eixos temáticos sugeridos:- Literatura nas mídias digitais e redes sociais
- Jornalismo literário e narrativas de não ficção
- Adaptações literárias no cinema, rádio, televisão e streaming
- Questões epistemológicas da interface comunicação-literatura
- Escrita de si e autobiografias em contextos midiáticos
- Estudos biográficos, documentais e autobiográficos
- Poéticas da oralidade e comunicações não-hegemônicas
- Intermidialidade e narrativas transmídia
- Literatura como forma de resistência comunicacional
- Estética da literatura e da comunicação
- Estudos pós-literários e narrativas audiovisuais seriadas
Referências
Agamben, G. (2018). O fogo e o relato: ensaios sobre criação, escrita, arte e livros. Boitempo.
Barthes, R. (2015). La préparation du roman: cours au Collège de France 1978-79 et 1979-80. Éditions du seuil.
Benjamin, W. (1994). Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Brasiliense.
Benjamin, W. (1994). “O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov”. In Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Brasiliense.
Calvino, I. (2007). Por que ler os clássicos. Companhia das Letras.
Derrida, J. (1973) Gramatologia. Perspectiva.
Derrida, J. (2009) A farmácia de Platão. Iluminuras.
Derrida, J. (2001) Mal de arquivo. Relume Dumará.
Derrida, J. (2001) Papier machine. Galilée.
Didi-Huberman, G. (2011). Sobrevivência dos vagalumes. Editora UFMG.
Flusser, V. (2002). Da religiosidade: a literatura e o senso de realidade. Escrituras.
Flusser, V. (2010). Há futuro para a escrita? Annablume.
Marcondes Filho, C. (2010). O conceito de comunicação e a epistemologia metapórica. O princípio da Razão Durante. Paulus.
Marcondes Filho, C. (2013). O rosto e a máquina. O fenômeno da comunicação visto pelos ângulos humano, medial e tecnológico. Paulus.
Kittler, F. (2017). A verdade do mundo técnico. Trad. Pablo Gonçalo. Contraponto.
Kittler, F. (2019). Gramofone, filme, typewriter. Trad. D. Mastineschen e G. Flores. Editoras UFMG e UERJ.
Rancière, J. (2021). As margens da ficção. Editora 34.
Rancière, J. (2000). A partilha do sensível: estética e política. Editora 34.
Rancière, J. (2012). O destino das imagens. Contraponto.
Dossier de Comunicación y Literatura: Narrativas y Experiencia Estética
Fecha límite de envío: 15 de agosto de 2026
Periodo de evaluación: 16 de agosto al 15 de noviembre de 2026
Previsión de publicación: diciembre de 2026
Editores responsables:
Prof. Dr. Leandro Bessa (UCB)
Profa. Dra. Pamela Zacharias (USP)
Profa. Dra. Danielle Naves de Oliveira (UnB)
Prof. Ms. Rhaysa Novakoski (UnB)
Convocatoria:
Las narrativas literarias se configuran como potentes fuentes de creatividad para la constitución de diversos productos mediáticos contemporáneos. A partir de la literatura surgen guiones cinematográficos, series audiovisuales, adaptaciones a cómics, libros de arte, producciones musicales y una amplia gama de expresiones estéticas que transitan entre diferentes lenguajes y soportes. En este contexto, esta convocatoria de la Revista Esferas propone reunir reflexiones, análisis e investigaciones que se sitúen en la intersección entre Literatura, Comunicación y Artes, en diálogo con las prácticas culturales contemporáneas.
Al considerar los encuentros entre géneros, lenguajes, medios y soportes, se destaca la importancia de comprender la Comunicación como instancia mediadora de las experiencias humanas, de las cuestiones sociales y de género, así como de las dimensiones políticas e históricas evocadas por obras literarias clásicas y contemporáneas. Así, los desplazamientos y resignificaciones de textos literarios hacia otros lenguajes —como el cine, las artes visuales, la música y los entornos digitales— se convierten en objetos relevantes para el debate académico en el campo de la Comunicación y las Artes.
Esta perspectiva dialoga con la formulación de Jacques Rancière (2000), quien afirma en La partición de lo sensible que, en el régimen estético de las artes, “las cosas del arte se identifican por su pertenencia a un régimen específico de lo sensible. Este sensible, sustraído de sus conexiones ordinarias, está habitado por una potencia heterogénea: la potencia de un pensamiento que se ha vuelto, él mismo, extraño a sí mismo: producto idéntico a un no-producto, saber transformado en no-saber, logos idéntico a pathos, intención de lo no intencional, etc.” (Rancière, 2000, p. 32).
Así, la relectura de narrativas clásicas —muchas veces comprendidas como un enigma que atraviesa generaciones— reafirma el carácter dinámico y mutable de los textos literarios. Basándose en lo que Barthes (2015) señala sobre el deseo creador que una obra puede desencadenar, se puede decir que en cada texto literario reside la potencia para la creación artística infinita. Como bien observó Italo Calvino (2007), al referirse a la versión cinematográfica de La cartuja de Parma de Stendhal, una novela puede, décadas después, volver para fascinar y seducir a nuevos públicos de diferentes maneras. Autores como Dante Alighieri, Miguel de Cervantes, Franz Kafka, Clarice Lispector y João Guimarães Rosa tienen sus obras constantemente revisitadas y transformadas en producciones audiovisuales, exposiciones, películas, espectáculos y diversas otras formas artísticas: una multiplicación de imágenes hacia lo que Rancière (2012) denomina “entrelazamiento lógico y paradójico entre las operaciones del arte”.
Desde una perspectiva teórica, la intersección entre literatura y comunicación se torna central en la elaboración de pensamientos como los de Ciro Marcondes Filho, quien, en su conjunto de obras denominado Nueva Teoría de la Comunicación (publicadas entre 2000 y 2020), se dedicó a los aspectos tanto ontológicos como contingentes de esta relación. De la misma manera, Friedrich Kittler presenta una de las reflexiones más originales sobre la interfaz comunicación-literatura. Al investigar la literatura germanófona de los siglos XVII y XVIII, Kittler localiza en la figura materna el medio corporal (la madre es calor y es voz) que transmite las narrativas fundamentales para la formación humana en Occidente. Además, cabe mencionar a Vilém Flusser, lector prolífico de Kafka y Guimarães Rosa, quien afirmaba que la lengua crea realidad; por ello, veía la literatura como parte privilegiada de un proceso histórico (y también poshistórico) en el que la narrativa tradicional se enreda en una compleja red de signos, ritos, programas, materialidad, inmaterialidad, sacralidad, códigos y aparatos.
Asimismo, la literatura moviliza discusiones que trascienden las páginas de los libros, constituyendo fundamentos epistemológicos centrales en el campo de la Comunicación, así como en formulaciones estéticas. Las producciones literarias recientes, muchas veces, no solo generan debates y reflexiones sobre materialidad, modos de circulación y nuevas (o revisitadas/reformuladas) poéticas, sino que también movilizan diferentes lenguajes artísticos ya desde el desarrollo y nacimiento de la obra o del producto comunicacional. En este contexto, el “caos de las materialidades” se evidencia en la disolución de los límites entre los haceres artísticos.
Por lo tanto, el dossier Comunicación y Literatura: Narrativas y Experiencia Estética invita a investigadoras e investigadores de las áreas de Comunicación, Literatura, Artes y campos afines a enviar artículos, ensayos y relatos de investigación que reflexionen sobre los múltiples diálogos entre los campos de la literatura y la comunicación, investigando cómo los discursos literarios y mediáticos se entrecruzan, se tensionan y se transforman en el contexto de la cultura contemporánea. Se valoran enfoques inter y transdisciplinarios que exploren tanto los modos de circulación de la literatura en los medios como los usos literarios en las prácticas comunicacionales.
Ejes temáticos sugeridos:
- Literatura en medios digitales y redes sociales
- Periodismo literario y narrativas de no ficción
- Adaptaciones literarias en cine, radio, televisión y streaming
- Cuestiones epistemológicas de la interfaz comunicación-literatura
- Escritura de sí y autobiografías en contextos mediáticos
- Estudios biográficos, documentales y autobiográficos
- Poéticas de la oralidad y comunicaciones no hegemónicas
- Intermedialidad y narrativas transmedia
- Literatura como forma de resistencia comunicacional
- Estética de la literatura y la comunicación
- Estudios posliterarios y narrativas audiovisuales serializadas
Submission deadline: August 15, 2026
Review period: August 16 to November 15, 2026
Expected publication date: December 2026Editors:
Prof. Dr. Leandro Bessa (UCB)
Profa. Dra. Pamela Zacharias (USP)
Profa. Dra. Danielle Naves de Oliveira (UnB)
Prof. Ms. Rhaysa Novakoski (UnB)Call for Papers:Literary narratives are powerful sources of creativity for the constitution of various contemporary media products. From literature emerge film scripts, audiovisual series, adaptations into comic books, art books, musical productions, and a wide range of aesthetic expressions that traverse different languages and mediums. In this context, this call for papers from Revista Esferas proposes to gather reflections, analyses, and investigations situated at the intersection of Literature, Communication, and the Arts, in dialogue with contemporary cultural practices.
Considering the encounters between genres, languages, media, and supports, it is important to understand Communication as a mediating instance of human experiences, social and gender issues, as well as the political and historical dimensions evoked by classical and contemporary literary works. Thus, the displacements and resignifications of literary texts into other languages — such as cinema, visual arts, music, and digital environments — become relevant objects for academic debate in the field of Communication and the Arts.
This perspective dialogues with Jacques Rancière’s formulation (2000), who affirms in The Politics of Aesthetics that, in the aesthetic regime of the arts, “artistic things are identified by their belonging to a specific regime of the sensible. This sensible, subtracted from its ordinary connections, is inhabited by a heterogeneous power — the power of a thought that has become, itself, strange to itself: a product identical to a non-product, knowledge transformed into non-knowledge, logos identical to pathos, intention of the non-intentional, etc.” (Rancière, 2000, p. 32).
Thus, the return to classical narratives — often understood as enigmas that cross generations — reaffirms the dynamic and mutable character of literary texts. Based on Barthes’ (2015) reflections on the creative desire a work can trigger, it can be said that within each literary text resides the potential for infinite artistic creation. As Italo Calvino (2007) observed, referring to the film version of The Charterhouse of Parma by Stendhal, a novel can, decades later, return to fascinate and seduce new audiences in diverse ways. Authors such as Dante Alighieri, Miguel de Cervantes, Franz Kafka, Clarice Lispector, and João Guimarães Rosa have their works constantly revisited and transformed into audiovisual productions, exhibitions, films, performances, and various other artistic forms — a multiplication of images towards what Rancière (2012) calls the “logical and paradoxical intertwining between the operations of art.”
From a theoretical perspective, the intersection between literature and communication becomes central to the elaboration of thoughts such as those of Ciro Marcondes Filho, who, in his body of work called New Theory of Communication (published between 2000 and 2020), dedicated himself to both ontological and contingent aspects of this relationship. Likewise, Friedrich Kittler presents one of the most original reflections on the communication-literature interface. By investigating German-language literature of the 17th and 18th centuries, Kittler locates in the maternal figure the corporeal media (the mother is warmth and voice) that transmits the fundamental narratives for human formation in the West. Additionally, it is worth mentioning Vilém Flusser, a prolific reader of Kafka and Guimarães Rosa, who asserted that language creates reality; therefore, he saw literature as a privileged part of a historical (and also post-historical) process in which traditional narrative is enmeshed in a complex network of signs, rituals, programs, materiality, immateriality, sacredness, codes, and devices.
Likewise, literature mobilizes discussions that go beyond the pages of books, constituting central epistemological foundations in the field of Communication, as well as in aesthetic formulations. Recent literary productions often not only raise discussions and inspire debates about materiality, modes of circulation, and new (or revisited/reformulated) poetics, but also mobilize different artistic languages already in the development and birth of the work or communicational product. In this context, the “chaos of materialities” is evidenced by the dissolution of boundaries between artistic practices.
Therefore, the dossier Communication and Literature: Narratives and Aesthetic Experience invites researchers from the fields of Communication, Literature, Arts, and related areas to submit articles, essays, and research reports that reflect on the multiple dialogues between literature and communication, investigating how literary and media discourses intersect, are tensioned, and transform within the context of contemporary culture. Interdisciplinary and transdisciplinary approaches that explore both the modes of circulation of literature in the media and the literary uses in communicational practices are especially valued.
Suggested thematic areas:
- Literature in digital media and social networks
- Literary journalism and nonfiction narratives
- Literary adaptations in cinema, radio, television, and streaming
- Epistemological issues at the communication-literature interface
- Self-writing and autobiographies in media contexts
- Biographical, documentary, and autobiographical studies
- Poetics of orality and non-hegemonic communications
- Intermediality and transmedia narratives
- Literature as a form of communicational resistance
- Aesthetics of literature and communication
- Post-literary studies and serialized audiovisual narratives
- Literature in digital media and social networks